SER CACHORREIRO É ...


Eu (Viviane) e Nina, minha primeira cachorra*

Quem é cachorreiro já nasce cachorreiro. É algum gene recessivo e misterioso que aparece em uma criança de uma família onde só lá um ou outro gosta de cachorro... O primeiro sintoma surge cedo, naquele dia em que a criança interrompe a paz de um almoço no lar e faz os pais engasgarem com o insólito pedido: “Quero um cachorro!” Pronto, começou o inferno dos pais e do mini-cachorreiro.
Ele é logo levado a uma magnífica loja de brinquedos, onde pode escolher o que quiser, desde uma bicicleta até aquele carrinho cheio de luzes e sirenes. “Quero um cachorro!”. Ele Ganha o carrinho e mais um monte de presentes, para ver se esquece do cachorro. Mas não tem jeito. Ganha tartaruga, jabuti, periquito, canário e até um hamster, mas nada disso satisfaz a ânsia de cachorreiro que já nasce em sua alma numa intensidade que assusta  toda a família. Se der sorte, ganha seu primeiro cachorro. Se não, vai ter mesmo que esperar crescer. Aí, enfim, livre das amarras familiares, começa a mergulhar fundo na criação.
Eu (Viviane) com 7 anos cuidando da minha 1a. ninhada*
Vem a primeira fêmea, o sufoco do primeiro parto, o acompanhamento dos filhotes, o medo da parvo, da corona ... Começou sua longa jornada de cachorreiro através deste mundo-cão. Daí para frente passa a vida trocando jornais, fazendo vigília ao lado das cadelas que estão para parir e cuidando filhotes mais fracos. O cachorreiro vai se afastando do mundo dos homens e admite mesmo: “Não gosto de gente...”. Programa de cachorreiro é visitar ninhada na casa dos outros cachorreiros, pegar cachorro no aeroporto,ir às exposições ou pendurar-se no telefone para conversar com seus amigos cachorreiros sobre cachorros... No começo, criar uma raça só já o satisfaz, mas logo dá aquela vontade de experimentar outra e lá vai ele pela vida afora, em meio a muitas raças e muitos cães.
As compras de um cachorreiro também são diferentes das compras de um ser humano comum: shampoos, cremes, óleos, gaiolas, enfeites... Mas tudo para cachorro. Se algum amigo viaja para o exterior e cai na asneira de perguntar: "Quer que traga alguma coisa para você?", recebe logo as mais estranhas encomendas: máquina de tosa, lâminas, escovas, pentes... Tudo para cachorro. Casa de cachorreiro é toda engatilhada, cheia de grades aqui e ali, protegendo portas e janelas. A decoração muitas vezes fica prejudicada com a presença de gaiolas e caixas de transporte na sala e nos quartos. Mas o cachorreiro não está nem aí e, como quem freqüenta casa de cachorreiro é cachorreiro também, ninguém liga mesmo.
O carro do cachorreiro também não pode ser qualquer um. De preferência um com bastante espaço interno para caberem os cachorros e as tralhas todas nos dias de exposição. Banco de passageiros não é tão necessário, mas o espaço é indispensável. 
Nina com sua ninhada*

Cônjuge de cachorreiro tem de ser cachorreiro também, ou a união pode sofrer sérios abalos e, quando chega aquela hora fatídica, no meio de um bate-boca, em que o outro dá o ultimatum: "Ou os cachorros ou eu!", o cachorreiro certamente vai optar pelos cachorros.
Velhice de cachorreiro é cheia de preocupações. Vou morrer, e quem cuida dos meus cachorros? Resolve, então, não criar mais nada e reza para que todos os seus cães partam antes dele, mas o coração não agüenta e, daqui a pouco, arranja outro filhote para cuidar, estribado na promessa de alguém que garante ficar com o cachorrinho em caso de morte do cachorreiro. E, como ser cachorreiro é ‘padecer no Paraíso’, acredito que o bom Deus, na sua infinita misericórdia e eterna sabedoria, já tenha providenciado um céu só para os cachorreiros onde eles, junto com todos os seus cães, seus amigos cachorreiros, juízes, veterinários, etc., possam, enfim, levar uma vida tranqüila e cheia de paz, sem vizinhos ou parentes chatos para nos importunar... (Autor desconhecido)

* Nina foi uma simpática "vira-lata" que meus pais recolheram das ruas de São Paulo/SP quando eu (Viviane) tinha apenas 6 anos de idade. Ela foi o meu primeiro cão e viveu comigo até os meus 15 anos, quando morreu devido a uma piometra. Ela foi um sonho que se realizou. Com ela aprendi que jamais poderia viver sem um cão, aprendi o que é um amor verdadeiro, desinteressado e totalmente leal. Quando ela morreu jurei nunca mais ter nenhum cão, tamanho foi o meu sofrimento. Mas, não consegui cumprir com o juramento e alguns meses depois já havia recolhido outros cães da rua. Essa é a sina do amante de cães.

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